O ESPÍRITO SANTO

Estudo XII - O Pecado Contra o Espírito Santo


 
"Em verdade vos digo que tudo será perdoado aos filhos dos homens: os pecados e as blasfêmias que proferirem. Mas aquele que blasfemar contra o Espírito Santo não tem perdão para sempre, visto que é réu de pecado eterno" (Marcos 3:28 e 29).

Este Verso está entre os mais difíceis da Bíblia. Considerando o que Jesus foi e o que Ele fez a fim de perdoar nossos pecados, a idéia de um pecado que nem mesmo a cruz perdoa deve nos fazer tremer. Assassinato, incesto, orgulho, adultério, roubo, idolatria, e até palavras proferidas contra Cristo (Mat. 12:21-32) podem ser perdoados (Efés. 1:7). Mas, nas palavras do próprio Cristo, "aquele que blasfemar contra o Espírito Santo não tem perdão para sempre" (Mar. 3:29). Isto é incrível!

 Assim, a pergunta lógica é: qual é o assim chamado pecado imperdoável? Esta é uma expressão que, a propósito, nunca aparece nas Escrituras. Toda a idéia de um pecado que não pode ser perdoado parece muito contrária a tudo o que conhecemos sobre o Deus que tanto fez justamente para nos perdoar todos os pecados. É por isso que este é um tópico merecedor de estudo – pois todos precisamos estar cientes daquilo que, mais do que qualquer outra coisa, nos deixa, como Jesus disse, em perigo de pecado eterno" (v. 29).

Para salvar pecadores

De acordo com 1 Timóteo 1:15, qual foi o propósito da vinda de Cristo à Terra?

Poderiam ser escritos muitos livros sobre as razões para a história incrível de Jesus Cristo, o Deus que ocultou Sua divindade em humanidade e morreu em nosso lugar a morte que todos nós, como pecadores, merecíamos. Entre as razões para a vida e a morte de Jesus temos:

Ele veio a fim de nos revelar como é Deus (João 14:9).
Veio a fim de ser Servo de Deus e mostrar o que significa servidão (Mat. 20:25-28; Filipenses 2:5-7).
Veio para nos deixar um exemplo de como viver (1 Ped. 2:21; João 2:6).
Veio a fim de ser para nós sumo sacerdote fiel e misericordioso (Heb. 2:17 e 18).

Todas estas coisas, por mais importantes que sejam, seriam sem sentido para nós sem o que é indubitavelmente o aspecto mais crucial da missão terrestre de Cristo.

Entre todas as razões por que Jesus veio e morreu, a mais importante – pelo menos de nossa perspectiva – é que Ele morreu para nos salvar da penalidade legal do pecado, que é a morte, e morte eterna. E a grande notícia é que, por Sua obra, Ele pode fazer isso para qualquer pessoa que O aceite. A salvação vem a todo o que crê, tanto judeu como gentio (Rom. 2:9). Os que crêem são, então, poupados da "condenação eterna" que Jesus advertiu em numerosos textos, inclusive Marcos 3:29, quando falou de um pecado que pode levar a essa condenação. Deste modo, se pela fé nEle somos poupados dessa "condenação eterna", e se o "pecado imperdoável" leva a essa condenação, qual é realmente o sentido mais provável desse "pecado imperdoável"?

 "Todo pecado e blasfêmia"

Leia Mateus 12:22. Veja também Marcos 3:22-30.

As palavras fortes de Cristo não foram ditas sem um motivo. Elas foram pronunciadas em resposta a uma declaração de certos fariseus que, depois de testemunharem uma cura operada por Jesus, disseram: Ele "expele demônios" (Mat. 12:24) por Belzebu, o maioral dos demônios. Essa atitude foi assumida diante da evidência inegável de Seu poder divino: a santidade de Sua vida, que eles não podiam deixar de reconhecer e que mais tarde admitiram tacitamente (João 8:46); o fato de curar os doentes de maneira sobrenatural (Mat. 8:14-17; Mar. 1:29-34 etc.); o fato de expulsar demônios (Mat. 9:32 e 33) e Sua ressurreição (Luc. 7:11-17).

Porém, recusando admitir a divindade de Cristo e opondo-se ativamente a Ele, esses homens se colocaram em posição em que foram forçados a explicar as obras de Cristo em alguma base que não admitisse Sua divindade e, conseqüentemente, atribuíram a Satanás a obra de Deus. Assim, fecharam a mente à evidência do Espírito Santo. O Espírito Santo traz impressões sobre a verdade na mente e no coração (João 14:17; 16:13) e convence do pecado (João 16:8). Mas embora Deus seja paciente, misericordioso e não deseje que ninguém pereça (2 Ped. 3:9). Seu Espírito não trabalhará indefinidamente com o coração obstinado (Gên. 6:3). Se a verdade for persistentemente resistida e recusada, os apelos do Espírito deixam de ser ouvidos, e o coração é deixado em terrível escuridão.

Possivelmente, esta foi a condição a que Paulo se referiu quando descreveu certas pessoas "que têm cauterizada a própria consciência" (1 Tim. 4:2). Para a pessoa culpada do pecado contra o Espírito Santo, fechou-se a oportunidade, e para ela "não resta sacrifício pelos pecados; pelo contrário, certa expectação horrível de juízo" (Heb. 10:26 e 27).

O pecado imperdoável

O pecado é fatal para nossa existência, mas Deus Se alegra em perdoar nossos pecados. Não precisamos perecer, apesar de que "todos pecaram e carecem da glória de Deus" (Rom. 3:23). Jesus morreu para conquistar o direito de perdoar os pecadores arrependidos.

Mas existe um pecado imperdoável, e este inevitavelmente resulta em morte eterna. Quando alguém recusa responder à bondade de Deus, que procura levar ao arrependimento (Rom. 2:4), essa contínua recusa de aceitar a proposta divina de graça finalmente resultará em pecado imperdoável.

Leia Mateus 12:31 e Marcos 3:29.

O pecado imperdoável, ou o pecado contra o Espírito Santo, é a rejeição persistente da luz, rejeição persistente do que Cristo fez por nós. Essa rejeição cega inevitavelmente os olhos espirituais e endurece o coração daquele que rejeita os apelos do Espírito, como exemplifica a atitude dos líderes de Israel. Finalmente, existe escuridão absoluta, e a pessoa está perdida eternamente porque arruinou a perceptividade de sua mente para as sugestões do Espírito.

O ato de colocar-se além do alcance do poder do Espírito Santo é "imperdoável" porque a pessoa não pode sequer se arrepender sem a ajuda do Espírito de Deus. Deus não pode fazer nada pela pessoa a menos que a force, e isso Ele não fará. Por suas escolhas, essa pessoa se colocou fora do alcance da salvação.

Convicções do Espírito

"Quando Ele [o Espírito] vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo: do pecado, porque não crêem em Mim" (João 16:8 e 9).

A fim de se qualificar como candidato à salvação, alguém deve reconhecer que é pecador. Ninguém pede ajuda do Salvador a menos que tenha sentido essa necessidade. Uma de nossas maiores necessidades é a convicção pessoal do pecado. Não podemos trazer essa convicção sobre nós mesmos; é prerrogativa e ofício da obra do Espírito nos convencer do pecado. Seu primeiro trabalho é tornar o pecador ciente de sua pecaminosidade e, conseqüentemente, sua condição perdida. O Espírito não é meramente o Consolador. Ele também é – e primeiramente – quem nos convence do pecado. Ele Se torna Consolador para os que fizeram paz com Deus, admitindo e confessando seus pecados.

"Precisamos ter conhecimento de nós mesmos, conhecimento que resultará em contrição, antes de podermos achar perdão e paz. O fariseu não sentia convicção de pecado. O Espírito Santo não podia nele atuar. Sua vida apoiava-se numa couraça de justiça própria, a qual as setas de Deus, farpadas e desferidas pelos anjos, não podiam penetrar. Cristo só pode salvar quem reconhece ser pecador." –Parábolas de Jesus, pág. 158.

Quando a pessoa recebe uma visão da justiça e santidade de Deus, como aconteceu com o profeta Isaías (Isa. 6:5 e 6), o Espírito Santo convence essa pessoa de que ela é pecaminosa e nada além de absoluto juízo e destruição a aguarda, a menos que Jesus intervenha. Assim, o poder convencedor do Espírito Santo é muito importante em nos guiar a Cristo. Imagine, então, a condição desesperada das pessoas que, por sua própria teimosia, tornaram-se imunes aos apelos do Espírito Santo.

Arrependimento e o pecado imperdoável

Às vezes, tem havido membros da igreja que vivem com medo de terem cometido o pecado imperdoável. De certo modo, não é difícil entender por quê. Somos pecadores; se não vivermos momento a momento sob o controle do Espírito Santo, somos capazes de fazer quase qualquer coisa. E para uma pessoa que conheceu o Senhor, que obteve um vislumbre da santidade de Deus, seu sentimento de pecado pode parecer horrivelmente condenatório. A culpa pode ser subjugante. A maioria dos cristãos, em algum ponto de sua experiência cristã, teve momentos de temor, momentos em que acreditou que seu caso era sem esperança, que não podia alcançar o ideal de Deus e que, de fato, poderia ter cometido o pecado imperdoável.

O fato de alguém haver cometido algum crime ou pecado não é obstáculo permanente para a salvação. Jesus pode salvar qualquer pessoa que esteja disposta a aceitar a salvação. Ele não está primeiramente preocupado com o escuro passado de ninguém. Qualquer pecado e negligência pode ser apagado pelo Seu sangue derramado. Existe uma condição para esse perdão, e este é o arrependimento, que vem unicamente pela obra do Espírito Santo. Enquanto houver arrependimento no coração do homem, haverá perdão no coração de Deus.

É evidente que devemos nos lembrar de que o pecado não pode ser considerado trivial. Cada pecado nos endurece; cada vez que caímos, fazemos assim unicamente porque afastamos a convicção. Quanto mais fizermos isso, mais fácil será fazê-lo outra e outra vez. E embora possamos sempre nos arrepender e encontrar perdão, quanto mais pecarmos, mais endureceremos o coração àquele que nos leva ao arrependimento, o Espírito Santo.

Assim, é importantíssimo, cada dia, reclamar o poder de Deus para nos purificar, regenerar e restaurar à imagem do Salvador. (Veja 1 Cor. 10:13; Gál. 5:16; Tito 3:5).

 "Todo pensamento impuro contamina a mente, enfraquece o senso moral e tende a apagar as impressões do Espírito Santo." –O Desejado de Todas as Nações, pág. 302.

"Mas se alguém, por recusar repetidas vezes a direção de Deus, perder a capacidade de reconhecer a bondade quando a vir, se fizer com que seus valores morais sejam invertidos até que para ele o mal seja bem e o bem, mal, então, mesmo quando for confrontado por Jesus, não terá consciência do pecado de que não se pode arrepender e nunca poderá ser perdoado. Este é o pecado contra o Espírito Santo." – William Barclay, The Gospel of Mark, pág. 81.


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